Na volta do público, Flamengo relembra 2019, destrói Defensa e avança às quartas da Libertadores
Apesar de sofrimento desnecessário devido à falha defensiva, equipe é imensamente superior ao argentino e goleia o segundo jogo seguido; Renato Gaúcho mostra evolução nítida
21/07/2021 - 23h59
Vicente Arantes
Gustavo Henrique e BH comemoram gol de Rodrigo Caio junto ao zagueiro
(Foto: Reprodução/Twitter Fox Sports)
497 dias depois, a espera acabou: um estádio brasileiro finalmente voltou à receber público pagante em um jogo oficial! A CONMEBOL havia permitido presença de público caso houvesse acordo da equipe mandante com o Estado em que a partida ocorresse, e devido à negativa de Eduardo Paes sobre o Maracanã, o Flamengo escolheu o Mané Garrincha, em Brasília, para a partida. E mesmo que apenas 6 dos 18 mil ingressos colocados à venda tenham sido comercializados, a atmosfera criada pela torcida mostra a perda que o futebol brasileiro teve nesse período afastado de seu maior patrimônio.
E a atuação do Flamengo foi parecida à que realizava com o último comandante à beira do campo que presenciou um jogo com torcida pelo clube. Sim, não é exagero dizer que o Flamengo de Renato jogou à lá o, até então inigualável, Flamengo de Jorge Jesus. Claro que as proporções devem ser mantidas, assim como as ressalvas à pequenos detalhes que o time do comandante brasileiro deve corrigir, mas em relação ao ímpeto ofensivo e à vontade, a torcida que esteve presente no Mané Garrincha certamente teve memórias de 2019.
O Flamengo fez um primeiro tempo simplesmente avassalador: 71% de posse de bola, quase toda ela no campo ofensivo, com muita movimentação do quarteto mágico de BH, Arrascaeta, Everton e Gabigol. Destaque máximo para o camisa 27 que, mesmo voltando de lesão, ditou o ritmo acelerado do rubro-negro na primeira etapa. Foram pelo menos 5 boas escapadas pela esquerda, todas no mesmo estilo e igualmente imparáveis pela zaga do Defensa. Além de ótimas chances, conseguiu arrancar um amarelo para Frías e também arrumou o escanteio do gol que abriu o placar. Em bela cabeçada de Rodrigo Caio, que subiu mais que todos os defensores argentinos, os cariocas tiraram o zero do placar, para delírio da torcida, que voltava a comemorar um gol "in loko" depois de quase 500 dias.
Mas lembra quando dizíamos das ressalvas? A maior delas vai sobre a seriedade que um torneio como a Libertadores requer. Pouco se via do time de Jesus, mesmo com a saída de bola sendo priorizada, lances de extremo perigo para sua própria meta. E assim como vinha acontecendo com Domenec e Ceni, uma falha defensiva quase colocou tudo à perder: Diego recuou uma bola muito próxima para Diego Alves, que tentou devolver, e acabou estourando em Loaiza. Uma trapalhada da zaga rubro-negra, que fez o Defensa arrancar o empate no final do primeiro tempo e devolver um nível de tensão para o jogo até então inexistente. Mesmo dominante em todas as ações, um gol do adversário poderia tirar o Flamengo da Libertadores.
Diego Alves e a falha que colocou o Defensa de volta no jogo
(Foto: Reprodução Fox Sports)
Mas não se pode comparar o time de Renato Gaúcho à seus recentes antecessores. A vontade e união que esse Flamengo apresenta dentro de campo é algo que só foi visto anteriormente com o português multicampeão. Apesar de uma volta do intervalo tensa, e 15 minutos de nervosismo pela vantagem que havia perdido, o rubro-negro se reencontrou no jogo, justamente após substituição à dedo de Renato: saiu Everton, entrou Michael, e com ele o gás que faltava para o motor carioca voltar ao máximo e voltar à amassar o adversário. Com a confiança alta, o baixinho arriscou um chute improvável de primeira, a bola estourou no travessão e voltou na cabeça de Arrascaeta, para colocar novamente a equipe na frente e dar tranquilidade para o resto do jogo.
Mas não parou por aí, e Renato promoveu também a entrada do criticado Vitinho no lugar de Bruno Henrique, que apesar de não fazer gols ou dar assistências, foi o grande destaque do Flamengo pela movimentação. E Vitinho preciso apenas de três toques na bola, para dominar, cortar para a esquerda e chutar uma bola venenosa, que quicou na frente de Ezequiel e enganou o goleiro do Defensa. Com 3 a 1 e a classificação já selada, mais um "flash" do Flamengo e 2019: não se satisfez. Em contra-ataque de almanaque, Michael tocou para Gabigol, que deu uma bela ajeitada para Vitinho, novamente cortar e fechar o placar do chocolate rubro-negro. 4 a 1, vaga para as quartas de final, e muita comemoração da torcida, que teve a noite dos sonhos na volta aos estádios.
As lições tem que ser aprendidas, um time com tanto volume e agressividade não pode deixar o lado competitivo de lado em prol de suas ideologias. Um gol como o de hoje, se sofrido em uma fase adiante, pode resultar em eliminação, e certamente Renato não quer deixar de fazer história no Flamengo por uma falha tão besta como essa. Mas o Flamengo está no caminho certo, e o grupo sabe disso, não atoa abraçou a causa do técnico desde o primeiro momento, e mostra estar mais unido do que nunca em busca dos objetivos em comum.
Classificado, o Flamengo pode finalmente respirar aliviado após a conturbada saída de Ceni. Amanhã, descobre seu adversário: Internacional e Olímpia batalham no Beira-Rio para saber quem enfrenta o rubro-negro na próxima fase. O jogo de ida terminou empatado sem gols. No domingo, o Flamengo volta à campo pelo Brasileiro. Embalado com as duas goleadas e boas atuações, a equipe recebe o São Paulo, time que está engasgado desde de Jorge Jesus, sendo um dos poucos clubes que o português não venceu. O jogo acontece no Maracanã, às 16 horas, e vale a perseguição aos líderes para o rubro-negro.
Confira no vídeo abaixo os melhores momentos do baile do Flamengo na volta da torcida aos estádios:
